quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

a adaptação

Adaptar significa habituar, ambientar, integrar, acomodar, conformar, acostumar, harmonizar.
E já posso adiantar que fazer tudo isso não é fácil, não. E a adaptação é de todos: da criança, da família, dos pets, do ambiente, dos amigos. Claro que, primeiramente, da família. Mas ninguém vive numa bolha. Então, inevitavelmente, outras pessoas entrarão nessa adaptação.
Encontrei um texto muito legal sobre o assunto e compartilho aqui para quem quiser ler.
Agora vou falar um pouco da nossa adaptação.
Primeiramente, acredito que nenhuma adaptação seja fácil. E, para mim, pensar assim me prepara melhor para não achar que tudo vai ser um mar de rosas, para, depois vir o sofrimento. Eu lido melhor com as coisas assim. Não é sofrer por antecedência. E realmente não gerar uma expectativa de que vai ser tudo lindo e maravilhoso, porque sabemos que não é!
E felizmente, minha tia me ajudou muito. Ela compartilhou comigo a adaptação deles e isso me fazia pensar que “ia passar”. E passou. Passa. Tenha sempre certeza disso. Quando se apavorar e não saber para onde correr, pense: “Passa! ”.
E o processo de adaptação é exatamente como quando a gente muda nossa rotina por qualquer motivo. Por exemplo, quando Nina nasceu, cheguei em casa e pensei: “E agora? O que faço? Para onde corro? Como vai ser minha vida agora? Nunca mais vai voltar a ser como era antes? ”... e por aí vai. São muitos questionamentos.
E com a nossa adaptação não foi diferente. Ainda estamos nos conhecendo. É verdade. E vai um tempo até a gente se conhecer bem...
Na prática mesmo, os primeiros dias foram nada fáceis. E eu acho que foi porque mudou tudo em casa. Um filho só em casa é muuuuito diferente de dois filhos em casa. Pais de dois confirmarão! E não estamos falando de um segundo filho que vem bebezinho, que não fala, fica deitadinho no mesmo lugar, mas interage nesse estágio. E eu sei, têm os desafios do bebê também.
Estamos falando de uma adoção tardia, que traz uma bagagem junto. E sim, isso é normal. Temos que aprender a lidar. E ir contra a correnteza só nos fará sofrer. Quando escolhemos o perfil da criança, temos que ter consciência disso. E eu sei que não temos total consciência. A vivência nos mostra isso.
Voltando aos primeiros dias, eu me vi perdida com duas crianças em casa. Eu tirei férias. Duas semanas.  Marido não pode tirar porque estava substituindo um colega que já estava em férias. Nina ficou em casa, de férias da escola. Eu achei que não fazia sentido adaptar A. sem a irmã. Iria ser uma adaptação minha e dela só. Foi mais difícil e trabalhoso, mas foi de uma vez só e passou. Confesso que a adaptação dela com o pai demorou um pouco mais, e funão de ele não estar em casa. Mas, tempo recuperado com sucesso já.
Somado à adaptação, tive que iniciar o desfralde. Sim, ela ainda usava fralda. E eu tenho vergonha de contar e só me dei conta depois estava na TPM. E a gente acha que tá preparado... Tá não, coleguinhas! Tá não!
Desafios a toda hora... teu filho te chamando de tia/tio e você dizendo: é mamãe, é papai.  Desfralde. Rotina. Brigas. Teimosia. Muita curiosidade. E tudo isso você tem que dosar, porque tudo é novidade para o teu novo filho. Ele não tinha contato com aquela vida. Ele está ali porque você quis muito. Você foi lá e disse que o queria. Ele não pediu para estar ali. Ele nem tem noção que estar ali vai ser bom para ele. Aliás, o que ele mais quer, no início, é voltar para o abrigo. Você faz de tudo e no fim do dia ele quer os amiguinhos do abrigo. E você tem vontade de desabar. De chorar. Está cansada. Mal comeu. Está suja, descabelada, dói tudo.  Gente é um puerpério sem tirar nem por. Sem glamour algum.
Até esse momento, pouquíssimas pessoas sabem do processo. É arriscado contar. E se não der certo?
Passados os 4 primeiros dias, as coisas vão melhorando. Todos criam uma nova rotina. Teu novo filho não entra na tua rotina. Mas uma nova rotina é criada para acomodar a todos.
Ainda tem o desafio de aproximação com o pai, que passa o dia fora. É cara feia para o pai, olhar de desconfiança, choro... e aí chega o final de semana... e aí o pai está presente e fica junto e as coisas vão melhorando.
E 8 dias de adaptação já haviam se passado... ainda tínhamos 7, e podemos pedir mais 15.  Mas com 8 dias decidimos pedir a guarda provisória. Demos por finalizada, de nossa parte, a adaptação. Tudo, exatamente tudo que estava acontecendo nesse momento, era algo normal de uma família de dois irmãos. E já estávamos adaptados a isso, que no início parecia o caos, mas nada mais era do que uma nova família se conhecendo melhor para se habituar, ambientar, integrar, acomodar, conformar, acostumar, harmonizar.
E aí solicitamos a guarda da A.


(continua....)

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Um oi pra quem ainda nos lê! E um bem-vindo pra que está “vindo”!
Eu sei que não ando registrando muito a nossa vida ultimamente. Mas garanto que dá um belo livro de tantas aventuras que aconteceram nos últimos 5/6 anos, desde a gravidez da Nina.
Assim como tem coisas maravilhosas, tem épocas difíceis. Mas no geral podemos dizer que estamos ótimos e superando cada obstáculo dessa vida (e tentando evoluir para as próximas, quem sabe!).
Mas eu vim aqui contar sobre um assunto que amadurecemos (enquanto casal) desde muito antes de a Nina ser concebida, quando começamos a pensar em aumentar a família: a adoção!
Eu, enquanto pessoa única, sempre tive essa vontade dentro de mim: adotar! Mas se eu tenho um companheiro, ele também tem que ter esse mesmo desejo. Então fomos conversando, conversando, plantando a ideia, regando, alimentando, adubando... e um belo dia ela nasceu. A vontade dos dois falou mais forte e entramos com a documentação para nos habilitarmos.
Vale lembrar aqui que tive muita dificuldade em engravidar. Nina foi gerada naturalmente depois de 3 FIVs negativas, quando a gente estava indo para o quarto tratamento (de FIV, porque teve outros antes, como indução de ovulação). E Nina veio como um milagre, forte, numa gestação tranquila e saudável. Nasceu em julho de 2012, também tranquila e saudável.
Em janeiro de 2015 eu engravidei novamente. E naturalmente. Mas com 10 semanas de gestação, sofri um aborto espontâneo. Foi uma gravidez anembrionária. E foi aí que eu decidi (porque o corpo é meu, então... meu corpo, minhas regras!) que não ia mais querer engravidar e que se fôssemos mesmo ter mais filhos, seria pela adoção.
A essa altura, Nina, com 2 anos e 8 meses, já tinha sido promovida a irmã mais velha e tal. E foi a pessoa que ficou mais triste com a perda. Ela queria muito esse irmão/irmã. E falamos que ele não viria mais. Para ela foi dolorido. Mesmo pequena, ela entendeu.
Nesse mesmo ano e em 2016, passamos por alguns obstáculos e deixamos o assunto “aumentar a família” em stand by.
E, obstáculos vencidos, em novembro de 2016 entramos com pedido de habilitação para adoção. Em maio de 2017 aconteceu a primeira reunião de acolhimento, a inicial. Em junho, fizemos uma entrevista com a assistente social, em julho, a entrevista com a psicóloga. Em agosto, fizemos a última reunião, de fechamento e em setembro recebemos a habilitação. Foram 10 meses de processo para estarmos aptos a entrar na fila de espera.
Pelo nosso perfil, nos deram uma expectativa de 3 anos até sermos chamados. E tudo bem. Já sabíamos, quando entramos, que poderia levar uns 5 anos todo o processo.
Falando do nosso perfil, queríamos uma criança com idade entre 3 anos e 5 anos e 11 meses, indiferente de sexo e cor/raça.
Nina sempre soube da nossa opção e desde que entramos com a documentação, já conversamos com ela. Pois ela ainda pedia um irmão. Eu só falava para ela que sim, ela teria. Mas teria que ter paciência porque a mamãe aqui não teria mais filhos na barriga. E que ela teria um irmão/irmã que não viria para casa bebê. Seria mais grandinho já, mas olhando pelo lado bom, já seria companheirinho dela para brincar, entre outras coisas.
No início ela queria que fosse bebê, mas fomos conversando e ela aceitou bem. A psicóloga só recomendou que o segundo filho fosse mais novo que ela para não haver perda de status dentro da hierarquia de irmãos.
E assim, a vida seguiu seu curso. Nina pedindo por Seu Juiz mandar logo o irmão/irmã... a gente tentando contornar a ansiedade dela... e a nossa. Levando uma vida normal, já que a expectativa de nos ligarem e dizerem “chegou a vez de vocês” era de anos luz à frente.
E também não contamos muito para as pessoas. De ansiedade, já chegava a nossa!
Passados 3 meses, minha tia, que estava na fila há uns bons anos já, foi chamada: Ela ouviu “chegou a vez de vocês”. E ela vou conhecer V. No abrigo, contaram para ela que V. tinha mais 3 irmãs e uma delas era o nosso perfil. Minha tia não sabia muito bem em que estágio estávamos do processo, se estávamos ou não habilitados, mas comentou que tinha uma sobrinha que, achava ela, estava habilitada para adoção da irmã de 3 anos. Mas enfim que ela conheceu V. e V. foi para a casa dela fazer adaptação.
Minha tia me falou que V. tinha uma irmã de 3 anos e, no começo eu não entendi muito não... fiquei perdida. Pensei que recém havíamos sido habilitados, e não teríamos chance alguma. E em janeiro, tentamos. Mais que um não, a gente não ia receber... e foi o que aconteceu. Recebemos um não. O motivo: respeitar a fila. Ótimo, ninguém queria furar fila. Só queríamos que as duas ficassem perto. Me conformei.
Uns dias depois, nos procuraram para falar novamente sobre o assunto e nos pediram as habilitações (porque elas são individuais da pessoa, embora nosso processo foi para adoção conjunta). Enviei. Falaram que tinham reavaliado a situação, por serem irmãs e poderem ficar próximas (óvini, né gentchi) e tinha feito pedido para o Seu Juiz autorizar a aproximação.
E 10 dias se passaram até que recebemos a notícia de que podíamos visitar A.
Acho que não estamos acreditando. Era muita sorte. Não, não era sorte. Era destino! A adoção da minha tia acelerou a nossa por um bem maior: as irmãs poderem crescer juntas.
E lá fomos nós! O abrigo ficava a 400 km de casa. Fomos no domingo de manhã e voltamos à noite. Chegamos no abrigo às 15 horas conforme combinado, após o sono da tarde dela. Chegamos nós três. Entramos. Esperamos e A. entrou na sala. Toda tímida e com medo. Se sainha jeans, sandália, regatinha e com um rabo de cavalo. Nina, despachada, já puxou assunto, contando a vida dela. Peguei A. no colo, com calma e ela ficou.... Conversamos, perguntamos se ela queria passear na nossa casa. Mostramos fotos da Mona, do Fredo e do Fidel. Logo ela foi se soltando. Foi para o chão brincar com Nina. Tomaram água juntas. Ficamos mais ou menos uma hora com ela, sob a supervisão da coordenadora do abrigo.
Pedimos para a coordenadora para solicitar ao Seu Juiz que pudesse nos visitar. Ele autorizou a passar 15 dias conosco, podendo renovar para mais 15 dias. Cinco dias depois fomos buscá-la. A. estava nos esperando com suas coisinhas na mochila, deu tchau para os amigos, para as cuidadoras e seguimos viagem para casa.
A viagem foi tranquila, paramos nos avós paternos. Ela amou tudo. Foi muito bem recebida e até churrasco o vovô fez. Jantamos e seguimos para casa.
Era o início da adaptação de A. era ao início da grande aventura para todos!


(continua...)